domingo, 1 de agosto de 2010

Antes do Sol



Cinco horas da manhã, esse momento cabalístico do dia. Sábado, o dia místico. Foi-se mais um final de semana, menos etílico que a previsão. Ando sem inspiração para o álcool. Quase descrendo seu poder poético. Minha mais vital fonte de energia ultimamente. Meu moinho.

A iminência do domingo desfila pela minha janela, ameaçando o temido raiar a qualquer instante e, com isso, divido a tarefa dos olhos entre tela e horizonte. A luz do primeiro foco logo se transfere ao segundo e aí, então, é domingo.

Entretanto, minha insônia catártica do descompromisso dominical serve de companhia involuntária. A companhia insensata. A insônia e, também, meu livro de contos. Meu, embora não meus. Preciso retomar a leitura e, na mesma medida, aquecer minhas letras divagantes.

Preciso de mais álcool, acho. O álcool, fonte de ascensão e declínio do ser humano aponta para o que mais preciso: Ascender antes da inevitável queda. E como ouvi há pouco, aceito ser melhor morrer de vodka que de tédio. Não sou da vodka, mas respeito seu efeito.

E, mais aflito que o futuro do álcool nas minhas veias, rôo a beirada dos dedos pelo futuro dos meus sábados. Por quantos mais às cinco e quinze da manhã, divagando solo sobre minhas angústias particulares?

Essa sensação ridiculamente ilusória da liberdade incondicional do sábado à noite. Do dia em que, ao anoitecer, minha vida, enfim, pertence a mim. A madrugada sem fim. Detentora ofertária de todas as possibilidades. Não há natal melhor que uma boa noite de sábado.

Não necessariamente boa no sentido lucroso dos benefícios acumulados, mas, boa de valer a pena pelo que proporciona. A poesia concreta conflitando com a melodia lírica. Todos os sentimentos, dentro de mim ao mesmo tempo, no meu tempo.

Estar no meio de uma madrugada dessas, me faz gostar mais deste escritor aqui. E acreditar, desprovido de sentidos, na infinidade do tempo, exigindo menos do inalcançável. A anestesia existencial (licença poética) permite tolerar parte das minhas intolerâncias.

Me faz aceitar a pressão do dia seguinte, quando, já condicionado ao autoflagelo, me entrego à tortura além dos meus verdadeiros defeitos. Um esporte sádico e nada sadio. Porém, só amanhã. Hoje um abraço apertado e um sorriso de felicidade sincera.

Talvez eu devesse esquecer o futuro do álcool. Talvez, fazer o mesmo com o futuro dos sábados e focar, afinal, no futuro. É o que está em jogo, eu acho. A maldita preocupação com o futuro. Talvez eu devesse, mas não hoje. Sou pessoa de respeito, aos sábados.

E, na tentativa ingênua de eternizar os bons sábados, fecho meus olhos. O sol, nesse exato momento, começa a despontar no céu. Ainda abaixo da linha do horizonte, mas, já dispersando o preto opaco da noite. Seis da manhã e o domingo está lá fora, querendo entrar.

Um comentário:

Tati disse...

Gostei Fá! Do texto e do novo visu!
Mas acho que você poderia dormir a noite e escrever de dia! Quando a gente não dorme, pensa muio...rs!